Anaquim surge em 2007 de restos de canções começadas e esquecidas entre os outros cenários musicais pelas mãos de José Rebola. Com a inclusão de Pedro Ferreira, João Santiago, Luís Duarte e Filipe Ferreira, o que era um projecto a solo ganhou uma dimensão de colectivo e partiu para palco, conquistando públicos por aí com um som despretensioso e uma mensagem sólida, leve na forma e forte no conteúdo.
Apresentados pelo EP “Prólogo”, o primeiro trabalho de longa duração “As Vidas dos Outros” chegou para nos revelar o resto das crónicas urbanas deste duende, teimoso na sua mania de pensar o mundo como gostava que ele fosse.
José Rebola nasceu e cresceu em Coimbra, teve formação em guitarra clássica no Conservatório de Música antes de partir à descoberta de novas sonoridades. Aos 18 anos teve a sua primeira aventura de temas originais com a banda de psychobilly “The Speeding Bullets”, antes de rumar ao punk-rock cabaret com “The Cynicals”, projecto vencedor dos mais marcantes festivais de musica moderna nacionais.
Os Anaquim, por JP Simões:
“Por alturas da pré-produção do programa Quilómetro Zero, depois de ouvirmos cerca de 12 mil páginas do Myspace com música portuguesa e outras coisas mais obscenas de carácter onanista, o projecto Anaquim foi o nosso primeiro consenso editorial. “Na Minha Rua” e “Pobre Velho Louco”, que agora se juntam a mais 14 canções neste primeiro longa duração, tinham a clareza, o humor bem temperado e aquela capacidade de alegre contágio que define o que a música popular aspira a ser: um bálsamo para a aspereza do quotidiano.
José Rebola, o compositor e letrista deste “As Vidas dos Outros”, desmultiplica-se deveras em mil personagens de um bairro imaginário e familiar onde se passa de criança para adulto depressa demais, tentando teimosamente guardar as histórias, os cenários e as personagens que parecem desaparecer juntamente com todas as nossas ternas e frágeis fantasias de infância.
É na primeira pessoa que Rebola canta as vidas dos outros, vidas onde falta sempre qualquer coisa, como em todas, e entre a decepção e o desamor a tónica dominante é a que tem acompanhado desde sempre trovadores e rock’n’rollers: a recusa em engrossar a multidão de vidas estereotipadas só porque é suposto já termos idade para ter juizinho, a vontade de adiar o compromisso e a resignação enquanto não nos sentirmos bem resolvidos connosco, a mágoa romântica que se protege desdenhando do amor que tanto anseia, em suma, o relato da eterna luta entre as nossas razões privadas e as vidas dos outros, esse lugar sempre estranho a que chamamos humanidade.
Em todas as canções, escritas com clareza e generosidade, Rebola consegue colocar sempre um dilema moral em destaque (“As Vidas dos Outros”, “Lídia” ou “Horas Vagas”), contar uma história em modo de lenda popular (“Vampiros”) ou pintar com detalhe e cor um quadro de quotidiano (“Na Minha Rua” ou o divertido e folclórico dueto com Ana Bacalhau, do grupo Deolinda, “O Meu Coração”): musicalmente, o clima é de festa, de celebração, entre New Orleans, os Balcãs e a Feira Popular, com rigor instrumental e imaginação, energia e empenho. “As Vidas dos Outros”, revela-nos um talentoso músico, compositor e letrista, acompanhado de excelentes instrumentistas e de uma atitude lúdica e divertida, pois, como disse José Rebola, a música deve ser também entretenimento e folia, sugerindo que a melhor forma de enfrentar os nossos medos e monstros é fazendo-os dançar.”